Por Fábio Santana – autor do livro Degustando os Prazeres do Bem Viver e colunista da VemTambém Nosso colunista de gastronomia, Fábio Santana, destrincha a raiz da tradição das festas juninas em um artigo especial sobre o autêntico feriado de São João comemorado à beira do Rio Douro O São João do Porto, a festa popular mais empolgante da cidade, teve sua origem no século XIV, por ocasião do Solstício de Verão, em comemoração às colheitas e à abundância, sendo mais tarde inserida no calendário católico como celebração do natalício de São João Batista. A festa tem como ápice a noite de 23 de junho, véspera do aniversário do Santo. Muitos confundem, mas a padroeira da cidade é Nossa Senhora de Vandoma.
O burburinho se inicia alguns dias antes, com a ornamentação da cidade. Bandeirinhas, palcos, além de barracas de comida e bebida. Os participantes se preparam para os festejos com a aquisição de martelinhos de plásticos. Infelizmente, substituíram os tradicionais alhos-poró, que trariam sorte, usados para “martelar” os passantes. Outra tradição da festa é ofertar ramos de manjericão, chamados manjericos, com ensejos de saúde, sorte e fortuna, ou em outra intenção, a paquera! Soltar balões, pular fogueiras, “êta São João danado de bão”! São tradições que foram mantidas ao longo dos séculos. A respeito dos balões, conta-se que serviam para avisar do início da festa, ou para cultuar o sol, e das fogueiras, a purificação e a proteção contra os maus espíritos. As simbologias se mantiveram e são vivenciadas até hoje em nossos “arraiás”. Marquei encontro com alguns familiares, que para cá vieram, na Praça da Liberdade, onde os festejos já estavam bem animados. Esta praça, considerada o coração da cidade, é onde está a Câmara Municipal, além da estátua equestre de D. Pedro IV. Seguimos para a Estação São Bento. Aqui não deixamos de apreciar a Sala dos Passos Perdidos, com seus belíssimos painéis de azulejos. Descemos pela Rua Mouzinho da Silveira em direção à Ribeira, viramos à esquerda na concorrida Rua de São João e seguimos até alcançarmos o Cais da Ribeira. Proporcionando um belo visual, tendo ao fundo Vila Nova de Gaia e a Ponte Luís I sobre o rio Douro, é aqui o local de maior concentração. Ficamos na Praça da Ribeira, com sua intrigante fonte, em que um imenso cubo parece ser sustentado por jatos d’água.
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Sempre recebendo algumas “marteladas”, parávamos para saborear as irresistíveis sardinhas e pimentões na brasa, além de outras comidas típicas portuguesas, ou para vermos e ouvirmos, danças e músicas, numa alegria espontânea e contagiante. Durante os festejos são contratadas bandas para apresentações ao ar livre e organizados bailes em alguns clubes privados. O cheiro de sardinha assada domina o ar. No céu, centenas de balões são como estrelas que descem juntas, para mais de pertinho, participarem dos festejos.
O ápice da festa é o espetáculo, à meia noite, de fogos de artifício, às margens do rio Douro. Mas a festa não acaba aí, os jovens permanecem nas praças, onde são apresentados shows musicais ou caminham até a foz do rio para apreciar o nascer do sol na praia.
Pratos típicos do Porto
Durante o São João do Porto, as barraquinhas dispostas ao longo das ruas oferecem o que há de mais típico da culinária local.
Encontramos com facilidade a tradicional Francesinha, um calórico sanduíche, composto de vários tipos de carne e embutidos, cobertos por uma generosa porção de queijo derretido, e, por vezes, acompanhado de ovo e batatas fritas, além de um molho picante. Foi uma invenção do senhor Daniel Silva que, após ter residido em Paris, fez uma versão do croque-monsieur, e batizou o prato em homenagem às “mulheres picantes da França”.
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Outra receita do Norte de Portugal, cantada até no fado, é o Caldo Verde, que, verdinho e a fumegar na tigela, é uma tradição que remonta ao século XVI, quando os trabalhadores utilizavam os ingredientes mais facilmente encontrados na região. O caldo verde é uma sopa espessa e saborosa, composta de couve, batata e linguiça portuguesa.
As tradicionais sardinhas portuguesas, fresquinhas e assadas na brasa, possuem um incrível sabor e, além de saudáveis, compõem os cardápios de bares e restaurantes.
A receita do Bacalhau à Gomes de Sá foi idealizada por José Luís Gomes de Sá Júnior, natural da cidade do Porto, no final do século XIX, e tem sua receita original registrada. Um prato saboroso que tem como ingredientes: postas de bacalhau, batatas, alho, cebola, ovos cozidos, azeitonas, salsinha e azeite de boa qualidade. Em sua elaboração, as postas de bacalhau, já demolhadas, são cobertas com leite quente durante cerca de duas horas. O alho e a cebola são dourados no azeite. As batatas, já cozidas, são cortadas em rodelas e misturadas com as lascas de bacalhau que foram retiradas da imersão no leite e, junto com o alho e a cebola, transferidas para uma travessa. Leva-se ao forno por cerca de quinze minutos. Antes de servir, acrescentam-se azeitonas pretas, salsinha picada e rodelas de ovos cozidos. Uma importante orientação do autor da receita: o prato deve ser servido quente, bem quente!